Entidades estimam que prejuízos superem os 10% apontados pelos dados do comércio exterior.

As exportações mato-grossenses de produtos de madeiras registraram queda de 10,3% nos primeiros cinco meses deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), analisados pelo Observatório da Indústria da Federação das Indústrias de Mato Grosso (FIEMT), mostram que a receita movimentada passou de US$ 59,9 milhões para US$ 53,6 milhões entre janeiro e maio de 2019 para 2020. Para o Fórum Nacional das Atividades de Base Florestal (FNBF), na prática, os impactos vão superar os números até agora levantados e alguns produtores vão precisar de apoio formal para manter suas empresas ativas.

O comércio internacional começou a declinar ainda em janeiro, antes mesmo da COVID-19 ser considerada uma Pandemia e atingir os principais mercados como Europa e Estados Unidos, com exceção da China, onde houve os primeiros registros da doença. Além da menor demanda, a paralisação de algumas indústrias, o isolamento social e a suspensão do Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor) contribuíram para um prejuízo ainda maior.

De forma geral, o levantamento da FIEMT aponta que 90% das indústrias mato-grossenses sentiram os impactos da Pandemia com queda no faturamento, sendo que 40% reduziram a produção, 20% instituíram sistema de teletrabalho e 13% tiveram que demitir funcionários.

Empresários e produtores de madeira ainda estão calculando os prejuízos da Pandemia, que deverão ser maiores do que os 10% até então apontados nos levantamentos. O produtor e industriário Fernando Passos, de Alta Floresta-MT, explica que até março as vendas tiveram comportamento normal em sua empresa, mas que em abril e maio a paralisação foi total. “Por enquanto o impacto foi de 100% de redução para os meses de abril e maio. Começamos a retomada em junho, ainda sem saber a dimensão do impacto, mas haverá uma redução de pelo menos 50% em termos de volume, talvez mais”, afirma. Fernando exporta produtos derivados de madeira plantada, Teca, para países como França e Índia, que compram mais de 90% de sua produção.

O vice-presidente do Sindicato dos Madeireiros do Extremo Norte de Mato Grosso (SIMENORTE) e Presidente do Fórum Nacional das Atividades de Base Florestal (FNBF), Frank Rogieri de Souza Almeida, afirma que apesar do impacto econômico da Pandemia ser inevitável, algumas medidas que poderiam amenizar a crise para o setor não foram efetivadas. “O setor de base florestal legalizado é um dos principais geradores de emprego e renda na região norte do país e, diferentemente do que é divulgado, um importante aliado para a preservação das florestas. Porém, faltam políticas públicas para atender nossas demandas, como linhas de crédito adequadas à nossa realidade”.

Atividade Sustentável – As recentes divulgações sobre o aumento do desmatamento ilegal, queimadas e a ameaça da retirada de investimentos em decorrência da política ambiental brasileira ofuscam todo o trabalho legal e sustentável desenvolvido pelos produtores de base florestal. Pesquisas mostram que mais de 90% das ocorrências de desmatamento ilegal e queimadas ocorrem em áreas invadidas e que não tem relação com a produção legal de madeira.

De acordo com o vice-presidente do SIMENORTE e Presidente do FNBF, Frank Rogieri de Souza Almeida, o próprio mercado formal regula o setor. “Só conseguimos vender para os clientes se estivermos com toda a documentação exigida e cumprindo os projetos de manejo. A madeira retirada ilegalmente entra de forma clandestina no mercado e atrapalha nossos negócios, até porque fazemos investimentos para operar legalmente”, afirma Frank.

Para Frank Rogieri, falta conhecimento por parte das autoridades jurídicas e políticas do país com relação às atividades. “Com o manejo florestal sustentável é possível monitorar todas as áreas licenciadas, estimular a renovação da biodiversidade e ainda prevenir a ocorrência de incêndios. Mas infelizmente nos comparam a criminosos que promovem o desmatamento ilegal e nos impedem de trabalhar”.

Reverter à situação do país, segundo o Frank, vai além de fiscalizar, precisa passar pelo apoio dos produtores formais e por uma política de comunicação eficiente para que todos conheçam o trabalho sustentável realizado nas florestas.