*Por Frank Rogieri de Souza Almeida
Ano passado, quando nossas florestas foram atingidas pelo fogo e todo o mundo voltou os olhos para o Brasil, ninguém falou dos produtores de base florestal e de sua importância na preservação da floresta. Mesmo diante de uma seca severa e incêndios descontrolados, nenhum hectare que está dentro de manejo florestal sustentável foi queimado. Somos um modelo de serviço ambiental prestado a todo o mundo e que não é remunerado.
Os investimentos internacionais pela preservação do meio ambiente não chegam até os pequenos produtores rurais, não cumprem seu objetivo de beneficiar os povos da Amazônia. Enquanto gastam com projetos utópicos, aviões e helicópteros, não se soluciona o maior problema que é a ilegalidade. O povo precisa ter condição e dignidade para viver nas florestas.
Primeiramente é preciso agregar valor.
A floresta em pé precisa ser precificada para que não se tornar apenas um passivo financeiro para os produtores rurais. Só em Mato Grosso existem 3,5 milhões de hectares de florestas privadas em que foram feitos manejos florestais sustentáveis.
Isso quer dizer que nestas áreas foram feitos projetos ambientais com uso de tecnologia e ciência para a retirada das árvores adultas, ou seja, no período em que elas já não mais sequestram carbono e sim emitem. O manejo florestal identifica as árvores que emitem o carbono, as retiram, abre-se espaço para entrada de luz natural e as árvores jovens se desenvolvem melhor e assim sequestram mais carbonos. Mas quem sabe disso?
Faltam investimentos justamente para quem busca regularizar sua produção e preservar as áreas exigidas. Todo mundo que tem propriedade rural, tem para sobreviver, para o sustento de sua família. Com a mudança na lei ambiental, os produtores arcaram sozinhos com a conta, pois pagaram para trabalhar em 50% de uma determinada áreas, mas depois só puderam utilizar 20%.
Isso sem falar que o trabalho florestal é de longo prazo. Uma área de manejo só pode ser trabalhada em intervalos de 25 anos. O que o produtor faz neste período? Como garantir o sustento? Preservar é caro e esta é uma conta que o Brasil não pode assumir a conta sozinho. Os países que mais consomem e mais poluem também precisam pagar para que nossas florestas fiquem em pé.
Os produtores legais, que fazem um trabalho sustentável nos aspectos ambiental, social e econômico estão arcando com essa conta sozinhos e há muito tempo. Não recebem dinheiro e nem mesmo são reconhecidos por isso.
*Frank Rogieri de Souza Almeida é produtor de base florestal em Mato Grosso e presidente do Fórum Nacional das Atividades de Base Florestal (FNBF) e vice-presidente do Sindicato dos Madeireiros do Extremo Norte de Mato Grosso (SIMENORTE).